O saudoso negão Wilson Simonal

Por: Edmilson dos Santos

Sou neto de Manelão, fundador de um povoado às margens da BR 020, estrada que liga Brasília ao nordeste brasileiro. Na época de meu avô, a região era conhecida como “corredor da miséria”, pois ali viviam negros e pobres. Hoje, com a duplicação da BR 020 pelo Presidente Lula, tende a ser o corredor da fartura. Foi com Manelão que aprendi desde infante, que a imprensa brasileira é preconceituosa e parte da mídia é amestrada, facciosa. Existem jornalistas competentes que ganham pouco, mas usam de subterfúgios para se locupletarem e atender o sistema.

Nesse diapasão, alguns profissionais usam até o biombo de agências de publicidades para receber o dinheiro invisível. Uma determinada emissora, que detém 60% da audiência e pauta a imprensa nacional, quando entrevista um negro, escolhe aquele que não tem uma boa dicção e pouca coisa na cabeça; talvez para mostrar que somos incompetentes. Isso ocorre também na indicação de negros para ocupar uma função de destaque no governo. Dificilmente é escolhido aquele que fala bem na televisão e tem pensamento independente. Preferem um de pele escura que tenha o discurso do sistema. A “elite branca” tem medo de indicar um Joaquim Barbosa, que colocou na cadeia: José Dirceu, José Genuíno, João Paulo Cunha, a poderosa ex-dona do Banco Rural, Katia Rabelo, entre outros. Digo isso também para tocar na injustiça cometida contra o artista brasileiro mais completo de todos os tempos: Wilson Simonal. Estreou há algum tempo atrás, em rede nacional o documentário "Ninguém sabe o duro que dei". O documentário esconde certas verdades que somente pessoas como Boni, Chico Anísio, o jornalista Walter Brito e Ronald Barbosa sabem.

Simonal, que foi em um determinado período, mais popular que Roberto Carlos, morreu na miséria, vítima da fama de dedo duro. Trata-se de invenção maldosa da mídia, avalizada pela suposta imprensa de esquerda. Foi Simonal que dividiu o público de 30 mil pessoas no Maracanãzinho em dois coros, cantando “Meu Limão Meu Limoeiro” , “Cidade Maravilhosa” e “País Tropical”.

Lembro-me quando os militantes da causa negra brasileira, o engenheiro Ronald Barbosa e o jornalista Walter Brito, este último, à época dirigente da Fundação Palmares, homenagearam Wilson Simonal e o então governador Albuíno Azeredo, na Câmara dos Deputados. O Ministro da Cultura da época, Embaixador Jerônimo Moscardo, que conhece bem a causa negra, abriu o evento e foi criticado por alguns setores da imprensa, por valorizar um dos maiores showmans de nossa história, o injustiçado Wilson Simonal. Pois é, acho que valeu a pena o trabalho de Walter e Ronald por tentarem a volta de Simonal, ajudando- o, inclusive, a conseguir o tão sonhado Habeas Data no Ministério da Justiça - que só saiu após a sua morte. O documento provou, que Simona, nunca foi dedo-duro do DOPS. O autor de “Samarina” e “País Tropical” foi, sem medo de errar, o artista brasileiro mais completo. Mas, como era negro, ele tinha a fama de metido. Por isso deu no que deu. Ele falava fluentemente 5 idiomas, tocava vários instrumentos musicais com perfeição, da gaita ao saxofone; do violão à guitarra mais sofisticada; do tamborim ao piano, entre outros. Eu continuo tendo orgulho de ser negro.

Lá na casa do Ricardo Marques, empresário de Brasília, num 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura, data que usamos para reflexão pois, o Dia Nacional da Consciência Negra, é 20 de novembro, quando rememoramos a morte de Zumbi dos Palmares.Assisti naquele dia ao lançamento da "Revista Mãe África". Foi uma noite memorável, onde as 27 embaixadas africanas no Brasil à época, estavam representadas por 23 embaixadores e 4 diplomatas. Neguinho da Beija Flor deu o seu grito de guerra “Alô Mãe África” e cantou. No palco, o jornalista Walter Brito conduziu os trabalhos com a maestria de sempre. Talvez a sua amizade com o velho Simona, permitiu-lhe aprender o compasso da música e o swing que somente o saudoso artista tinha.

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